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Em CPI, Zara admite que havia trabalho escravo em sua cadeia produtiva

Presidente da marca ponderou que empregados em condições degradantes de atividade estavam em confecção terceirizada pelos seus fornecedores

Em depoimento que durou 2h30 nesta quarta-feira na CPI do Trabalho Escravo da Assembleia Legislativa de São Paulo, o presidente da Zara, João Braga, admitiu, pela primeira vez, que havia trabalho escravo na cadeia produtiva da marca. As acusações contra a empresa são de 2011, quando o Ministério Público do Trabalho encontrou em duas confecções (Aha e Rhodez), contratadas pela varejista espanhola, empregados em situações degradantes de atividade. Braga ponderou, porém, que os fornecedores terceirizaram os pedidos da Zara sem o consentimento da empresa. A terceirização não autorizada também foi o motivo apontado por ele para as auditorias feitas pela varejista não terem encontrado, antes do MPT, a situação degradante de trabalho

— Houve desvio dos pedidos da Zara. (…) E o lucro não é nem nunca foi repassado à Zara — disse Braga, que assumiu a presidência da Zara no Brasil justamente com a missão de melhorar a imagem da empresa depois das denúncias.

A sessão teve momentos mais acalorados de debate. Um dos pontos altos ocorreu quando o deputado estadual Carlos Bezerra (PSDB), presidente da CPI, disse que a Zara tem o objetivo de “desmantelar a lista suja” do Ministério do Trabalho, que inclui o nome de todas as companhias que têm relação com trabalho escravo e na qual a marca espanhola foi incluída pela primeira vez em 2011. Depois de duas liminares na Justiça, a última há duas semanas, a empresa conseguiu ficar fora da lista.

— Retire seu exército de advogados, com as várias ações judiciais, que querem desmantelar a lista suja — afirmou o deputado.

Braga rebateu dizendo que a empresa “tem o direito de se defender” e, em afirmações repetitivas, frisou que o trabalho escravo foi encontrado em empresas terceirizadas dos fornecedores da Zara.

Os deputados de São Paulo afirmam que, ao final da CPI, terão um relatório com denúncias contra várias empresas e também sugestões e proposições para a solução do problema, diferentemente do que ocorreu com a CPI do Trabalho Escravo da Câmara Federal, que foi encerrada sem relatório.

— Aqui temos a coragem de resistir às pressões, que são fortíssimas. Estou confiante de que vamos, mais uma vez, conseguir fazer uma importante contribuição ao combate ao trabalho escravo no Brasil — completou Bezerra.

FONTE: Globo